segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Branca de Neve para crentes


Branca de Neve para crentes
Certa vez, uma estudante comentou comigo que participava de um grupo de estudos em sua igreja, um grupo que reunia pessoas interessadas em interpretação de textos. Esse grupo, após a leitura crítica da mais conhecida versão do conto folclórico “Branca de Neve e os sete anões”, havia chegado à conclusão de que os anõezinhos representavam anjos que Deus teria enviado para auxiliar a jovem protagonista. Eu quase imediatamente lhe disse, numa atitude mais involuntária do que racional, que não, que não podia ser aquilo. Mas não sabia ao certo o motivo dessa minha reação – afinal, eu nem tinha coçado a cabeça. Era como se algo me dissesse, num flagrante, que faltava algo relevante a ser considerado. Em seguida observei que os personagens dos anões não agiam como anjos, não se comportavam como anjos, não como os anjos da tradição religiosa, na qual cumprem a função de mensageiros ou de protetores. Os anões, que trabalhavam na extração de pedras preciosas, não funcionavam como mensageiros, de nenhuma parte a outra, da parte de quem quer que fosse. Esses homenzinhos, que supostamente poderiam proteger a princesinha perdida, em princípio rejeitaram sua presença. Foi preciso um consenso para que concordassem em auxiliá-la, aceitando a barganha, proposta por Branca de Neve, de cuidar da casa, dos afazeres domésticos, em troca de hospedagem por tempo ilimitado. Todas as vezes em que a rainha aparecia disfarçada de boa velhinha para tentar assassinar Branca de Neve [...], os anões não estavam em casa. Nenhum deles se prontificou a ficar por ali, com aquela jovem indefesa, e tentar protegê-la, mesmo sabendo que ela se encontrava perigosamente ameaçada por sua perseguidora.
Dias depois, lembrei-me de dizer a essa aluna que o texto deveria conter as evidências de nossas conclusões. Que todas as hipóteses levantadas por nós, leitores, deveriam apresentar sinais que as justificassem na obra em questão, evitando assim opiniões avulsas que nos afastariam do desfecho consensual. [...] ela me respondeu, serena e educadamente, como era de seu feitio, que os anões eram de fato anjos, pois havia sido aquela a conclusão de seu grupo.


Anões na interpretação de textos
http://www.percepolegatto.com.br/…/anoes-na-interpretacao-…/
Para quem quiser curtir a página em que divulgo meus textos...
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