segunda-feira, 25 de junho de 2018

Falsificações na Bíblia (Paulo - parte 1).

Falsificações na Bíblia (Paulo - parte 1).
As Epístolas pastorais são livros canônicos do Novo Testamento: Primeira Epístola a Timóteo, Segunda Epístola a Timóteo e Epístola a Tito.
A autoria de todas é atribuída a Paulo de Tarso, entretanto as primeiras suspeitas de que elas eram falsificações, vieram de Friedrich Schleiermacher (um dos mais importantes teólogos cristãos do século XIX). Em 1908, Schleiermacher publicou uma carta aberta que argumentava que '1 Timóteo usa palavras e desenvolve ideias que estão em contradição com as de outras cartas de Paulo, incluindo 2 Timóteo e Tito. Ademais, os falsos ensinamentos atacados na carta não se parecem com nada do que sabemos sobre a época de Paulo. Em vez disso, parecem heresias do século II, em geral chamadas de “gnósticas” '.
Somado aos outros problemas do livro, como:
A. O VOCABULÁRIO:
Pouco depois de Schleiermacher escrever sua carta-ensaio aberta, outros estudiosos se apresentaram argumentando que não apenas ele estava certo em relação a 1 Timóteo, como também que as outras duas epístolas pastorais tinham sido escritas pela mesma pessoa. Todas as três eram falsificadas.
A análise textual mostra que 1 e 2 Timóteo têm em comum palavras e frases não encontradas em nenhuma das outras cartas atribuídas a Paulo, como: “a promessa de vida”, “com uma consciência pura”, “de um coração puro”, “guarde o depósito (de fé)”, Paulo é um “apóstolo, mensageiro e mestre” etc.
Existem 848 palavras diferentes usadas nas epístolas pastorais. Delas, 306 não aparecem em nenhuma das outras epístolas paulinas. É um número muito alto; em especial, considerando-se o fato de que cerca de dois terços dessas 306 palavras são usados por autores cristãos vivendo no século II. Isso sugere que esse autor está usando um vocabulário que se tornava mais comum depois da época de Paulo.
B. “HOMOGRAFIA”
Outro grande problema é que o autor usa, muitas vezes, as mesmas palavras de Paulo em outros textos, mas com outros significados, como por exemplo o termo “fé”, que era de suprema importância para Paulo. Em livros como Romanos ou Gálatas, fé se refere à confiança que a pessoa tem em Cristo para dar a salvação por meio da morte. Em outras palavras, o termo descreve uma relação com o outro; fé é confiança “em” Cristo. O autor das pastorais também usa o termo “fé”. Mas não diz respeito a uma relação com Cristo; fé passa a significar o corpo de ensinamentos que compõe a religião cristã. É “a fé”

C. CONTRADIÇÕES.
Em 1 Coríntios 7, Paulo afirma que as pessoas solteiras deveriam tentar permanecer solteiras, assim como ele. Seu motivo é que o fim de todas as coisas está próximo, e as pessoas deveriam se devotar a espalhar a notícia, não a estabelecer vidas sociais. Mas como isso se encaixa com a visão nas pastorais? Ali o autor insiste em que os líderes da igreja sejam casados. Nas cartas de Paulo, é melhor não ser casado; nas pastorais, é exigido que as pessoas (pelo menos os líderes da igreja) sejam casadas.
Como a pessoa é “salva”. Para o próprio Paulo, somente pela
morte e ressurreição de Jesus a pessoa pode ser salva. E para as pastorais? Pelo menos no caso das mulheres, é dito em 1 Timóteo 2 que elas “serão salvas” tendo filhos. É difícil saber com exatidão o
que isso quer dizer, mas não significa o que Paulo queria dizer!
D. ANACRONISMOS
Paulo, como Jesus antes dele, acreditava viver no fim dos tempos. Quando Jesus foi erguido dentre os mortos, esse foi o sinal de que o fim já começara e de que a futura ressurreição dos mortos estava prestes a acontecer. Segundo a crença judaica, a ressurreição aconteceria quando esta era chegasse ao fim. Jesus é o primeiro fruto, porque com ele a ressurreição começou, e muito em breve todos - todos os mortos - serão erguidos para o julgamento. Por isso Paulo acha que ele mesmo estará vivo quando Jesus retornar do céu (ver 1Ts 4,14-18). Porém, nesse ínterim, apesar disso, a Igreja tem de crescer e sobreviver no mundo. Paulo achava que, nesse breve período intermediário entre a ressurreição de Jesus e o fim dos tempos, o Espírito de deus tinha sido dado à Igreja e a cada indivíduo que a compunha. Quando a pessoa era batizada, recebia o Espírito (1Co 12,13), e o Espírito dava à pessoa um “dom” espiritual. Alguns dos batizados recebiam o dom de ensinar, outros de profetizar, outros de curar, outros de falar línguas angelicais, outros de interpretar essas línguas. Todos esses dons deveriam ajudar a comunidade cristã a funcionar junta, como uma unidade (1Co 12-14). Nenhum desses dons era menor ou insignificante. Todos tinham importância. Todos na Igreja eram dotados de um dom, de modo que todos eram iguais. Escravos estavam no mesmo nível dos senhores, mulheres eram iguais aos homens. Por isso, Paulo podia dizer “não há [...] nem escravo nem livre, nem homem nem mulher; pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3,28). Havia igualdade. Quando surgiam problemas nas igrejas de Paulo - como na igreja de Corinto, para a qual há a melhor documentação -, ele escrevia para lidar com eles.

A igreja era uma bagunça! Havia divisões e casos de brigas internas, alguns membros processavam outros, os serviços religiosos eram caóticos e havia sérias discordâncias em relação a grandes questões éticas, como se era correto comer carne que tivesse sido sacrificada a ídolos pagãos. Algumas pessoas negavam que fosse haver uma ressurreição futura, e havia grande imoralidade — alguns homens visitavam prostitutas e se vangloriavam disso na igreja, e um sujeito dormia com a madrasta.
Para cuidar desses graves problemas, Paulo apela à igreja como um todo e aos indivíduos pertencentes a ela. Ele os conclama a usar seus dons espirituais para o bem comum. Apela para que ajam em unidade. Exorta-os a começar a se comportar de modo ético. Censura-os, por exemplo, por não aceitar o ensinamento correto sobre a futura ressurreição.
A única coisa que Paulo não faz é escrever aos líderes da igreja de Corinto e dizer a eles para dar um jeito nos paroquianos. Por quê? Porque não havia líderes da igreja em Corinto. Não havia bispos ou diáconos. Não havia pastores. Havia um grupo de indivíduos, cada um deles com um dom do Espírito, nesse breve tempo antes do fim que se aproximava.

Compare isso com o que há nas pastorais. Ali não há indivíduos dotados pelo Espírito trabalhando juntos para formar uma comunidade. Ali há os pastores Timóteo e Tito. Há os líderes da Igreja: bispos e diáconos. Há hierarquia, estrutura, organização.
Ou seja, há uma situação diferente daquela que havia na época de Paulo.
Se você espera que Jesus volte logo — digamos, este mês —, não há de fato necessidade de um sistema hierarquizado de organização e liderança. Você só precisa operar a curto prazo. Mas, se Jesus não retorna e você tem de se acomodar para o longo prazo, as coisas são diferentes. Você precisa se organizar. Precisa de liderança. Precisa ter alguém comandando o espetáculo. Precisa de mestres que possam eliminar os falsos ensinamentos do seu meio. Precisa especificar como as pessoas devem se relacionar socialmente: senhores e escravos, maridos e mulheres, pais e filhos. Em um sistema hierárquico, não há igualdade; há liderança. É o que você encontra nas epístolas pastorais
- igrejas se preparando para o longo prazo. Mas não é o que encontra no Paulo histórico. Para o Paulo histórico, não haveria longo prazo. O fim estava próximo.
Este texto foi retirado do livro "Quem escreveu a Bíblia" de Bart D. Ehrman. Aqui vai o link do livro na Amazon, vale a pena!
Falsificações em nome de Paulo (Parte 1).ia-Bart-Ehrman/dp/8522012946F


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