Em 25/04/15 um terremoto devastador atingiu o Nepal, um pequeno país situado ao sul do continente asiático. O desastre natural vitimou cerca de 7 mil nepaleses e causou destruição por todo aquele país.
É exatamente neste momento que demonstramos, como espécie, nossa solidariedade e nossa compaixão para com o outro ao, rapidamente, enviarmos ajuda a nossos irmãos que passaram pelo terror do acontecido. Mas é neste momento também que vemos manifestações de nosso despreparo e ignorância.
De uma maneira pérfida o que vi internet afora foi a demonstração da imbecilidade humana ao encontrar frases como:
"A mão de Deus é pesada, Ele está punindo a idolatria dos nepaleses."
"O terremoto no Nepal é a demonstração do poder de Deus para os seus cidadãos, para que eles abandonem seus 'demônios'."
"Aquele povo idólatra viu a mão de Deus."
Fiquei, em alguns momentos, em estado de choque.
Até onde vai nossa estupidez?
Nossa cultura ocidental realmente acredita estar munida da verdade absoluta no tocante à existência de um Deus punitivo, pessoal e separatista que, mesmo em nossa era, é egoísta, assassino e ciumento?
Quem de nós, americanos, pode julgar a cultura nepalesa como sórdida?
Onde é que está o respeito pela dor, pela tragédia, pelas mortes e pelo sofrimento ao qual estão, neste momento, submetidas aquelas pessoas?
Do alto de nossa arrogância ideológica batemos no peito, tal qual um gorila, nos vangloriando e desrespeitando o sofrimento alheio. Cheios do orgulho de que nossa fé é a verdadeira e que a do outro é loucura. Justificando, assim como nos tempos Abraâmicos, a matança desenfreada de nossos semelhantes pelo simples fato de que eles pertencem a outra crença religiosa.
Mas que estupidez.....
Temos a "cara de pau" de nos chocarmos com o assassinato de cristãos mas, perversa e ironicamente, ficamos extremamente satisfeitos com a "justiça divina" que imperou sobre um país levando mais de 7 mil pessoas a morte por um motivo estúpido, pútrido e ultrapassado:
Eles tinham outra fé.
Francamente... por quê é que não nos armamos com espadas, como nas cruzadas, e matamo-nos uns aos outros para defendermos nossa fé? Afinal Deus vai levar centenas de anos, considerando os intervalos entre os eventos sismólogicos, para conseguir extirpar todo aquele que não comunga da crença Nele.
Muitas justificativas basearam-se na oposição ao hinduísmo, religião oficial daquele país, pela sua divisão de castas, que defende que você deve viver conforme a casta na qual nasceu e que nunca poderá evoluir ou involuir neste processo; basearam-se também na oposição a um costume do hinduísmo que é a venda das filhas no processo de casamento, quase uma prática escravocrata; e, por fim, no já abordado tema das várias divindades cultuadas naquela cultura.
O irônico é que em nossa cultura pais estupram filhas, oferecem-nas em estradas como mercadoria sexual; não dividimo-nos em castas definidas mas, não é necessário procurar muito, veremos claramente que nossa sociedade é divida por "linhas imaginárias" onde se alguém não é daquele círculo "social" é logo eliminado; e por fim não temos deuses múltiplos mas, ironicamente, temos anjos, arcanjos, santos, santas, padres, pastores, freiras, frades, etc; em uma lista que pode, facilmente, equiparar-se aquela dos deuses hindus.
Quanta imbecilidade.
Como seres medievalistas e de visão medíocre relegamos aos poderes divinos toda e qualquer ocorrência natural que se dá neste planeta:
Furacões, tsunamis, terremotos, erupções vulcânicas, tempestades e secas severas.
Parece até uma piada estúpida e de mal gosto, em pleno século XXI, acreditarmos que as ocorrências naturais são obra de um Deus raivoso e impaciente, simplesmente não consigo entender qual é o problema dessa gente.
Conseguem dar graças a seu deus pelo assassinato de uma população inteira mas, observe agora amigo leitor, chocam-se fortemente quando praticantes de sua fé passam por situação semelhante. Eu disse praticantes da mesma fé, pois se a fé for outra tudo bem, pode morrer, é o deus errado que eles estavam adorando mesmo.
O problema está aí.
Não faz muito tempo aqui mesmo em Belo Horizonte um rapaz atropelou uma família inteira que saía de um culto evangélico, matando quase instantaneamente um menino de 7 anos. Será que Deus estava ocupado?
Ou Ele não quis proteger o menino, pois tinha uma daquelas mensagens ocultas que os crentes costumam achar que Ele envia de vez em quando?
Ou, de uma forma mais coerente, não existe Deus algum, por isso o garotinho foi atropelado, pela irresponsabilidade do condutor, e o terremoto no Nepal é um acontecimento puramente natural e comum do planeta que é, em última análise, alheio as nossas vidas e vontades?
Os cristãos gostam tanto de falar de moralidade e de o quanto sua fé é uma fonte de moral.
No entanto é imoral acreditar que um deus puramente intervencionista, pessoal e tensionalista resolve, da noite para o dia, causar a morte de milhares de pessoas por que elas não crêem Nele ou não professam a fé associada a Ele. Vou repetir:
É IMORAL pensar dessa maneira, justificar a morte de todas aquelas pessoas por este pensamento e sentir-me reconfortado por saber que o Deus no qual acredito é indiferente a vida que Ele pretensamente criou, desfazendo-a, destruindo-a e desrespeitando-a ao nível mais torpe, sujo e pérfido. Causando dor, sofrimento, tristeza, depressão, desespero, angústia, medo, incerteza, fome, sede e miséria a pessoas que cometeram um único crime:
Ter uma fé diferente.
Apoiando-nos em um livro que surgiu na era do bronze, cheio de morte, preconceito, machismo, homofobia, feminofobia, genocídio, infanticídio; mas que, parece até brincadeira, é tido como o guia moral que nos guia pela senda da fé verdadeira e do Deus verdadeiro.
Mas que, de uma maneira absurda, fecha nossos olhos, almas e corações ao sofrimento de nossos semelhantes. Separando-nos de nossa amabilidade com nossos iguais, destruindo nossa fraternidade e que consegue transformar-nos em seres egoístas e estúpidos.
Uma ideologia que, mesmo em face a uma tragédia, consegue desligar nosso respeito e bom senso, trazendo-nos conformismo quando deparamo-nos com o sofrimento alheio, nos convencendo que ele é merecido.
http://buscaderazao.blogspot.com.br/
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